8 de dez. de 2009

Longe dos holofotes, o roteirista.

A partir do momento em que os filmes se tornaram mercadorias (abstratas, mas rentáveis), por volta da primeira década do século XX, a indústria cinematográfica se estruturou em favor de um único objetivo: ganhar dinheiro.

Para ganhar dinheiro, os filmes devem possuir algumas características que atraiam as pessoas e façam com que elas escolham determinadas obras em detrimento de outras. Atores e diretores famosos são os atrativos principais - os que atraem nossa atenção mais facilmente. Com isso, uma peça essencial em qualquer bom filme sempre acaba ficando em segundo plano: o roteirista.

Jean-Claude Carrière, conceituado escritor e ator, diz:
"O roteirista trabalha encurralado por miríades de restrições técnicas e exigências comerciais. Incumbe-se de um projeto que deve necessariamente ser transformado até ficar irreconhecível. Negada a confortável introspecção do romancista, ele geralmente é obrigado a descrever seus personagens de fora para dentro. Sabe que seu trabalho está condenado ao desaparecimento: ele próprio é quase sempre desconhecido pelas platéias, mesmo de nome. Passa então, boa parte do tempo se perguntando: Como posso algum dia dar expressão à pessoa que eu sou? Como posso - como outros artistas mais conhecidos - fazer minha voz ser ouvida também?"

A necessidade da indústria cinematográfica lucrar com a exibição dos filmes faz com que muitos roteiros, se não a maioria deles, sofram várias alterações antes mesmo das filmagens começarem, para que as histórias possam se tornar produtos a serem consumidos pelas massas do mundo inteiro. E no meio dessa jornada pelo lucro, os roteiristas se tornam profissionais bem menos valorizados do que as Kristen Stewarts de Hollywood.

Escrever uma história ou um roteiro é uma tarefa exigente. Como o mesmo Jean-Claude Carrière resume bem, "significa pôr ordem na desordem". É reconstruir a realidade de uma outra forma, selecionando sons, ações, cores e palavras, ao mesmo tempo em que faz avaliações frequentes para não perder o caminho. Tal cena é clara o suficiente ou precisa ser reavaliada? As pessoas irão reconhecer esse cenário? Esta fala está muito complexa?

O roteiro é o momento preciso em que um filme toma forma, e o roteirista é a peça fundamental desse processo. Ele é a consciência de qualquer filme.