20 de nov. de 2009

Cinema, arte mutante

No começo do século passado as pessoas escreviam da mesma maneira que escrevem hoje. Charles Dickens, Anne Rice, Tolkien, entre tantos outros, produziram tabalhos que ainda nos afetam sem qualquer necessidade de modificação. O mesmo ocorreu com a pintura, uma vez que as técnicas usadas hoje foram descobertas há anos.

Durante esse mesmo período, no entanto, a linguagem cinematográfica passou por uma grande mudança. Desde as novas técnicas de projeção e captação ao uso de imagens computadorizadas, a linguagem do cinema manteve um fluxo veloz de aperfeiçoamento e inovação que a diferencia de qualquer outra forma de arte. A velocidade dessas mudanças só não é maior que o tempo levado para elas serem absorvidas por nós, telespectadores. Aliás, nada mais parece nos surpreender, a ponto de não precisarmos de mais do que segundos para compreendermos as novas linguagens.


Assistindo ao trailer de Avatar, o novo longa de James Cameron, me pus a pensar como é evidente essa evolução das técnicas que compõem a linguagem cinematográfica. Os efeitos visuais são de tal maneira impressionantes que os personagens, mesmo computadorizados, possuem movimentos e características mais do que realistas - mais até do que em Matrix e O Senhor dos Anéis.

Eu imagino um cineasta que viveu por volta de 1910 viajando no tempo e assistindo a um filme como Avatar, nos dias de hoje. Primeiro, ele não entenderia nada. Segundo, ninguém seria capaz de convencê-lo que os dragões e as naves espaciais são de mentira. Sem contar o fato da montagem de hoje seguir um ritmo totalmente diferente daquela época. Em 1910 os filmes ainda eram apenas sequências de tomadas estáticas - como uma peça de teatro. Os acontecimentos eram mostrados em uma sequência sem interrupções, como deveria ser na vida real.

O mais legal de isso tudo é que ainda não atingimos o limite da evolução cinematográfica. As projeções em salas 3D IMAX, por exemplo, estão apenas no início da sua popularização. O futuro do cinema está apenas começando.

Trailer de Avatar:



Para quem se interessa por cinema, vale a pena uma leitura no livro A Linguagem Secreta do Cinema, de Jean-Claude Carrière (Editora Nova Fronteira).

17 de nov. de 2009

Paranoid Park

Os filmes de Gus Van Sant são conhecidos pelas narrativas pouco convencionais. A sensibilidade que o diretor possui em capturar os sentimentos das personagens de maneiras minimalistas fica evidente em filmes como Elefante (Elephant, 2003), no qual retrata o famoso massacre que ocorreu em uma escola de Columbine, nos Estados Unidos.

Em
Paranoid Park (2007), Gus nos conta a hisória de Alex (Gabe Nevins), um jovem e introvertido skatista que, junto de seu amigo Jared (Jake Miller), começa a frequentar um local conhecido como Paranoid Park. Após fazer novas amizades e participar de uma perigosa brincadeira, Alex acaba se tornando o principal suspeito da morte acidental de um segurança da ferrovia que corta o local.

Assim como nos seus outros filmes, o diretor retrata os sentimentos das personagens sem o uso de palavras. Para tanto, ele utiliza a trilha sonora, os planos de câmera, a fotografia e as cores - a predominância da cor cinza deixa bem claro a angústia de Alex.

Outro ponto crucial de Paranoid Park é sua montagem. Como em Elefante, Gus nos entrega um filme cujas cenas vão se complementando aos poucos, em um vai-e-vem temporal consciente - para quem já está viciado na velocidade imposta pelos filmes comerciais de Hollywood, essa característica do diretor pode não agradar.

Os atores, todos recrutados através do MySpace, são mais do que competentes e fazem de Paranoid Park um filme de tom impecável, cuja mão do diretor tansformou em um poema visual que retrata a angústia e a complexidade que certos acontecimentos podem trazer.

Trailer: